Certo dia, uma amiga me dizia o quão fascinante eram as suas aulas. Ela falava inspirada sobre como conseguia compreender mais fácil o conteúdo, quando o professor narrava com histórias, contos, parábolas e fatos para explicar a matéria. Dava para ver o brilho nos seus olhos. Sem saber, ela me fazia lembrar uma frase que escutei várias vezes quando adentrei neste universo da publicidade: Pra fazer propaganda é preciso entender de gente!, que por ventura também escutei de um professor cheio de histórias. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Bem, de forma simples, acredito que entender de gente implica entender histórias, mas antes de começarmos a debater sobre isto, eu queria contar o trecho de uma história que ouvi do professor em questão pra vocês.
Imagine uma fogueira em uma praia. Ao seu redor estão várias pessoas, algumas mais jovens, outras mais velhas. As pessoas riem, bebem, conversam e compartilham experiências de vida. Pense em você sentado nesta fogueira, vendo todo o contexto. As pessoas estão felizes, estão aspirando algo mais por aquele momento, e não estão apenas ouvindo, mas estão construindo histórias, juntos, próximos. Entretanto, apenas algumas poucas pessoas falam. Outras apenas ouvem. No fim, fica fácil perceber quem está vivendo, pois tem histórias pra compartilhar na fogueira.
Retomando o que disse antes, penso que como no conto da fogueira, pessoas são formadas por histórias. Por quê? Porque histórias são carregadas de emoções, percepções, sentimentos, relacionamentos e insights. Vários insights!. Falo não das histórias presentes apenas em filmes e cinema, mas daquelas que estão nas pessoas. Aquelas com o poder de engajar, emocionar (acredito que emoção é mais forte que razão), e de criar experiências (lembre-se do brilho nos olhos narrado acima).
Penso que histórias inspiram novas histórias, aspiram e uni pessoas. Assim, creio que estas são capazes de envolver e engajar. Ok, envolver parece ser uma coisa muito óbvia, todos nós sabemos que a propaganda deve cumprir este papel. Sim, é verdade. Mas muitas vezes nos preocupamos tanto em achar o complexo, que nos esquecemos de coisas óbvias e simples, como por exemplo, envolver. Pense na simplicidade de alguns conceitos pelo mundo: I have a dream!, Imagine!, que colocadas sobre um contexto ganham significados ilustres. Voltando a história descrita acima, nela você está sentado envolto a fogueira… ali ao seu lado há outras pessoas, e vocês compartilham e constroem histórias juntos. É realmente neste ponto que acho que nós como planejadores devemos pensar, em construir junto. Não é fazer propaganda para pessoas, e sim com pessoas. Não é ficar preso a escritórios e salas, e sim arregaçar as mangas e ir pra rua, pros lugares onde as pessoas pensam e se relacionam com a sua marca de verdade. É pegar e fazer acontecer, e este é mais um clichê que vejo sendo deixado de lado.
Assim como no conto da fogueira, creio que é preciso criar relacionamentos que envolva o consumidor em um diálogo. Como diz o Will.i.am em seu excelente manifesto sobre communiting, “Crie conversas, não anúncios”. Por isto, aí vai mais um dos insights tirado da história acima: empatia. Sim, eu acredito que planejadores precisam desta capacidade camaleônica, e de ter empatia para se colocar no lugar de pessoas, de diferentes pessoas e diferentes culturas. E esta capacidade camaleônica não diz respeito apenas aos seus consumidores, mas com trabalhos e pessoas da sua equipe. “Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez” disse Heráclito um sábio.
Desta forma, creio que histórias como esta da fogueira que estão presente nas pessoas, criam brilhos nos olhos e são capazes de emocionar e tocar o homem na essência do seu ser, o fazer aspirar algo mais. Sendo assim, acredito que histórias é um dos caminhos mais fortes para compreender o que Bill Bernbach disse em um discurso em 1980, citado por Jon Steel em seu livro A arte do planejamento. Verdades, mentiras e propaganda, ao qual diz que “no coração de uma filosofia criativa eficaz está a crença de que nada é mais poderoso do que um insight no interior da natureza humana[…]”. No entanto, pense que histórias devem estar intrínsecas a verbos que pedem ação, como fazer agir, produzir, quebrar a cara e outros.
Por fim, deixo aqui algumas reflexões para você planner fazer quando se sentar com o seu público e o seu cliente envolta da fogueira: Que história as pessoas estão lhe contando? Que histórias você tem a contar? O que vocês estão compartilhando? Que aspiração vocês estão trocando? Que conversas estão criando, e o que estão vivendo? E o mais importante, que história vocês estão construindo juntos?