Everything is a remix e tudo é referência

Semana passada eu comecei a ler Emma.  Livro bem aclamadíssimo da Jane Austen, eu não comprei, ganhei da minha mãe que achou a capa do livro incrível.

Comecei a ler,  e no começo achei um livro chato demais, perfeito para época que Jane Austen vivia:  sem muita ação, sem muito alvoroço, sem trama nenhuma, nada acontecia. A partir da página 70, por aí, a trama vai mudando, os assuntos vão ficando mais envolventes e é aí que começa uma viagem minha. Uma comparação com outros livros e outras coisas que não são livros. Também me lembrei do old but gold : Everything is a remix e de outros exemplos.

Continuando, vamos lá…

Quando eu tinha 17 anos e estava no terceiro ano, comecei a ler Gossip Girl (ei, não me julgue), e o primeiro livro da série é basicamente o livro de Emma (não me julgue por essa comparação se você for muito fã de Jane Austen, tá bom?). Em Gossip Girl existe alguém que é a fofoqueira da série e faz umas confusões, é partir daí que as coisas vão se desenrolando. Em Emma também.

O que eu quero dizer, é que talvez as coisas se pareçam com um comportamento que sempre vai existir nas nossas vidas. Esse exemplo que eu acabei de citar é bizarro, uma história que Jane Austen escreveu em 1815 se parecer com uma de três anos atrás?  Genial e clássico. Talvez por isso as suas obras sejam intituladas como clássicas, e talvez por isso também alguns dos principais gênios da filosofia, da economia, das artes, enfim, do mundo, da vida, são gênios por isso. É claro que eu não estou falado que um livro é igual ao outro, foi apenas uma percepção, tipo quando uma ideia surge e você vai correndo escrever no moleskine e se não escrever, perde a ideia.

Espera, mas o que eu quero realmente dizer nesse texto? Acho que além de percepções sobre as coisas, é que nunca, mas nunca você deve ter preconceito com as referências que ler, ver, ouvir, dançar, enfim… Ao mesmo tempo que você pode ler os livros de Gossip Girl, você pode ler obras de Jane Austen, você pode gostar de Beatles, você pode gostar de tecno brega (e eu não estou falando de Banda Uó e eu não estou sendo preconceituosa), principalmente se você for trabalhar em comunicação, publicidade ou afins.

Adeus, mundo engessado

Uns dias atrás fui ao cinema assistir o filme “A Viagem” (Cloud Atlas, título original). Apesar de ser polêmico (quem assistiu e/ou leu as críticas sabe do que estou falando) e tratar de vários temas, uma das coisas que mais me marcou foi: como são incríveis as pessoas engajadas!

Certo, para que vocês possam entender um pouco eu precisaria explicar a história do filme, mas como isso é praticamente impossível (ainda mais tendo assistido uma única vez), vou apenas fazer um apanhado geral da parte que interessa a esse post – e prometo não dar spoilers para quem não assistiu ainda.

Na narrativa, acompanhamos cinco histórias diferentes que se passam em cinco épocas distintas (passado distante, passado, presente, futuro e futuro distante). A princípio, não se nota nenhuma ligação entre elas, mas no decorrer do filme percebemos que as personagens protagonistas de cada história estão conectadas por vários laços e que todas acreditam tão fortemente nas suas crenças e objetivos que são capazes de fazer mais do que o possível para lutarem por isso. Só que o mais legal é que todas essas personagens só fizeram isso quando alguém lhes mostrou esse algo pelo quê lutar. Antes disso, todas vivam suas vidas normalmente, até aparecer um algo que mudou a vida delas e que seria impossível simplesmente ignorar e viver como antes.

Após sair da sala de cinema, pra mim foi impossível não fazer uma conexão entre essa abordagem do filme e a publicidade. Ok, não é novidade pra ninguém que as marcas hoje são praticamente seres vivos, precisam interagir com seu público e principalmente engajá-los. Só que nessa de dar vida às marcas, muitas vezes as medidas tomadas acabam indo por um caminho oposto, mecanizando-as. Semana passada, o Guilherme trouxe algo próximo pra discussão no seu post “Tentaram limitar o digital”, falando sobre as repetitivas práticas já não inovadoras no meio digital, mas vejo que isso vai mais além, uma vez que a criação de vínculo real com o público precisa ocorrer também por outros meios fora o digital. Assim como em tempos passados, algumas empresas ainda tentam criar padrões.

Acontece que as coisas mudaram. Dizem que a internet mudou o mundo, mas não é bem verdade. A internet mudou as pessoas, e agora elas estão mudando o mundo. Essa mudança deu ciência às pessoas de que elas podem transformar coisas, que as vozes delas podem ser escutadas. Por isso, os padrões e os discursos repetitivos já não funcionam mais e as pessoas esperam mais das empresas. Quando uma marca levanta a bandeira de uma causa que o seu público acredita, eles se juntam à marca, se aproximam, a defendem, a tratam como um igual, parecido com o que acontece às personagens engajadas do filme A Viagem. E quando digo causa, não me refiro só a coisas grandiosas, como salvar o mundo.

Um ótimo exemplo disso é a campanha Happiness Refill, de uma marca expert em se relacionar e engajar com seu público, a Coca-Cola. Eles notaram que a felicidade para o jovem é estar sempre conectado, mas que às vezes isso é difícil uma vez que jovens possuem pouco dinheiro. Daí, criaram uma máquina que ao invés de encher um copo de refrigerante, “enche” o celular da pessoa com um pacote de dados para navegar na internet.

São atitudes como essa que aproximam o consumidor da marca, são essas as atitudes que os consumidores esperam. Não há espaço para algo engessado e as empresas que ainda sonham com isso precisam entender que se não se adaptarem, ficarão no passado junto com seu gesso.

É por isso que acho as pessoas engajadas e incríveis, mas mais ainda o mundo sem gesso que nós estamos criando.

Não destrua sonhos, pelo contrário gere uma experiência incrível

Há alguns dias, eu passei por uma situação que tirei uma grande lição para a profissão. A situação girava em torno de um sonho que eu tento realizar: conhecer de perto alguém que admiro há muito tempo. A produção responsável pelo evento que traria essa pessoa até Brasília divulgou diversas informações, dentre essas os ingressos que dariam oportunidade a várias pessoas, como eu, a chegar mais perto desse alguém que tanto gostamos, é fato que esse é um sonho de muita gente. As promoções foram feitas, divulgadas, e as primeiras pessoas a reservarem um dos tipos de ingresso estariam asseguradas da oportunidade de realizar esse sonho. Porém, em meio a informações incompletas, o número de ingressos reservados era menor do que o número de pessoas que reservaram, nesse momento deu-se início a uma experiência nada agradável. Dois ingressos que eu havia reservado e confirmado foram vendidos e acabei ficando sem eles. A forma que vi para solucionar o problema foi conversar com a própria produtora, tentativa infelizmente sem sucesso, já que eles não deram nenhuma atenção ao caso. O maior problema foi a venda desses mesmos ingressos mais caros, ou seja, se eu quisesse ainda ter essa chance deveria pagar muito mais já que a produção tinha vendido os meus, as informações do dia e local da venda desses ingressos foram divulgados e ao chegar ao local no dia marcado, não encontrei absolutamente nada, nenhum ingresso, nenhuma justificativa, porém mais uma frustração. Na tentativa de ligar várias vezes para o produtor responsável e mais uma vez dizer sobre o problema eu escuto um: “Não posso fazer nada por você”. A chateação desse caso não é só minha, mas de muitas pessoas que ficaram prejudicadas por conta da desorganização e desde já começaram a falar mal da produtora. No final de tudo, apesar do muito esforço que fiz para conseguir os ingressos, o que aconteceu foi que a produtora que dizia estar realizando sonhos, acabou deixando em mim uma experiência nada legal. Eu sei que nem deveria ficar tão chocada com o descaso e o que eu tive que ouvir, já que esse tipo de situação é bem comum (apesar de que não deveria ser) e ela é gerada muitas das vezes por uma simples falta de atenção da empresa que está promovendo o serviço com o cliente. Por exemplo, se abrirmos as redes sociais e procurar por páginas de empresas que prestam serviços necessários para a população, nos damos conta de um punhado de reclamações, e analisando cada uma é chegada a conclusão de que, em boa parte delas, o que faltou ali foi atenção da empresa com o problema que o cliente estava enfrentando e que poderia até ser solucionado por uma conversa, mas as pessoas que deveriam servir essa função preferem ignorar tudo e deixar rolar.

Então, aqui entra uma das lições que aprendi na propaganda nesses últimos anos: a essência de toda boa idéia é que um de seus principais resultados seja focado em levar os consumidores a vivenciar uma experiência, utilizar de diversas formas para inspirar seu público, seja utilizando 15 segundos da tevê ou da ação que é feita na rua. Porque simplesmente são as boas ações que levam comentários cheios de elogios, indicações para os amigos e a lembrança inesquecível, e isso tudo acontece porque o consumidor é um ser humano, e os seres humanos são constituídos de emoções, sonhos, necessidades e planos. Quando uma marca entende a necessidade do seu público ou realiza algum de seus sonhos ou ainda consegue levar o consumidor a se emocionar com atitudes simples, ela é lembrada para sempre. Um dos bons exemplos de empresas que fazem ações dispostas deixarem o dia das pessoas muito mais feliz é a Coca-Cola:

Essa foi uma das ações mais bonitas desse último Natal, na minha opinião. Realmente ver o brilho dos olhos das crianças e dos adultos me faz acreditar ainda mais que o papel hoje da propaganda é exatamente esse: levar boas idéias, levar o bem, inspirar os outros, muito mais que vender apenas um produto ou serviço.

Uma breve onda sobre inconsciência coletiva

Em 2011, conheci uma cantora chamada Marina and the Diamonds. Curti bastante o primeiro disco, até chegar o segundo. Não que este seja melhor que o primeiro (e não é, na minha opinião), mas a filosofia é.

Sempre ouvi falar de arquétipos. O herói, a dona de casa, o estudante. Mas não sabia do que se tratava, de fato. Então, certa vez li uma entrevista no nosso blog-mais-que-amigo Unplanned sobre o assunto, bastante explorado por Carl Gustav Jung, e achei ainda mais interessante como o conceito se relaciona com campanha e marca, além de auxiliar o planner em análises sobre o consumidor. Algum tempo depois, conversei com um outro amigo planner sobre o desenvolvimento de alguns jobs, como diferentes conceitos nos levam a processos mais bacanas e campanhas mais ricas. Aquela coisa de entrar no cotidiano do consumidor e falar uma língua que ele entende ou vive bem, sabe? Então ele comentou sobre uma campanha que a Natura havia feito utilizando arquétipos, e:

Achei super interessante o conjunto de coisas que fazemos inconscientemente e acabam participando do “grupo de personalidade” que nos faz.

Algum tempo depois, Marina and the Diamonds lançou um disco, Electra Heart. Sua temática era baseada em arquétipos femininos: a primadonna (alusão à protagonista da ópera), a destruidora de lares, a dona de casa e a teen (ou adolescente).  O álbum trata basicamente da “queda” do Sonho Americano utilizando esses quatro arquétipos como veículo, além de elementos da Tragédia Grega (UAU!, hein?). Com este caso à parte, o que essas personas nos falam ajudam muito a entender de traços, nichos de comportamento inconscientes; como havia dito, uma coletânia de traços despercebidos. É importante ressaltar que o arquétipo difere-se do estereótipo: enquanto o primeiro trata de traços coletivos do nosso inconsciente, ligado à psique humana, o segundo trata de generalizações de características e comportamentos que podem pertencer a um grupo social.

Quase que ao mesmo tempo, comecei uma matéria na universidade onde deveria escrever um artigo, e imediatamente não vi temática melhor, pois contribuiria para a minha vida de planner, sem contar o acervo de segmentos e músicas que precisaria garimpar. Pesquisei desde Frank Sinatra até Madonna. Do primeiro disco considerado temático, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club, dos Beatles, até filmes no estilo Kitsch, como Vale das Bonecas. Foi muito rico, amigos. Muito.

Portanto, publico aqui o cartaz do trabalho entitulado: “Electra Heart: um retrato do Sonho Americano por meio dos arquétipos do álbum de Marina and the Diamonds.” (Peço desculpas pela minha direção de arte.)

E o artigo completo:

Para quem se interessar pelo assunto e quiser entender mais sobre arquétipos, recomendo o livro Os arquétipos e o inconsciente coletivo, do próprio Carl Gustav Jung.

Tentaram limitar o digital

Podemos observar hoje uma tentativa de padronização da propaganda no meio digital. Como? Primeiro é preciso observar o histórico do marketing na internet.

Quando era novidade, várias ideias diferentes para propagar alguma coisa na rede surgiram, o universo era ilimitado, liberdade de criação total, principalmente com o avanço dos recursos. Tudo meio caótico, no bom sentido claro, pressupondo que do caos surge a ordem. Então um belo dia alguém teve a boa ideia de utilizar as redes sociais pra conversar com o público como se fosse um amigo, porque de acordo com as estatísticas as pessoas confiam mais nas indicações de outras pessoas do que na propaganda, certo? Funcionou e funciona muito bem, mas pode deixar de funcionar por um detalhe: todo mundo resolveu fazer a mesma coisa, independente do objetivo ou da proposta, virou uma resposta automática para trabalhar nas redes sociais. As empresas e agências talvez tenham confundido a ação básica de ouvir e responder o cliente com ter uma estratégia empacotada e pronta pra utilizar nas redes sociais. Avaliando várias ações de marcas na internet, dá pra perceber que não importa o segmento, produto ou público, a estratégia tomada é muito parecida.

A MyGloss por exemplo entendeu bem como se diferenciar utilizando o Facebook , e hoje é uma das fan pages mais curtidas do Brasil. Eles começaram a dar dicas sobre moda para as pessoas antes mesmo de abrir alguma franquia da marca, e mesmo após o início das vendas, a fan page era utilizada para oferecer valor, e não para vender ou fazer promoções. Segue o link com uma matéria na Exame com um pouco sobre o case. Saiba mais aqui.

Outro case diferenciado é o da cerveja Polar, a cerveja mais famosa do Rio Grande do Sul. Usando o conceito de “coopetição”, que trata de criar competições entre grupos, ideia que viraliza muito mais que as simples competições individuais, a Polar dividiu 100 mil reais entre Internacional e Grêmio, uma das maiores rivalidades no futebol brasileiro, em um hotsite, onde cada clique valia R$ 1,00 e a torcida deveria “roubar” o dinheiro do time adversário clicando. A campanha teve um grande retorno e foi um sucesso porque pensou e planejou algo de acordo com a região, o público e a marca, e pensou o digital como pensa o offline, buscando algo novo e diferente para atrair as  pessoas, e não apenas praticando uma estratégia pronta. Veja o vídeo-case:

A parte chata é que tudo parece muito, o conteúdo de uma campanha digital hoje é quase uniforme. São boas práticas e ideias, mas são as mesmas boas práticas e ideias. Entretanto, nem tudo está perdido. Sempre que surge um padrão, exceções começam a aparecer também.

A boa notícia se divide em duas partes: Primeiro, se está tudo muito igual, alguém vai começar a fazer diferente, e então o ciclo se renova.  E segundo, nada é mais orgânico e mutável do que a internet, logo, não dá pra limitar o digital.

Lição da Fogueira

Certo dia, uma amiga me dizia o quão fascinante eram as suas aulas. Ela falava inspirada sobre como conseguia compreender mais fácil o conteúdo, quando o professor narrava com histórias, contos, parábolas e fatos para explicar a matéria. Dava para ver o brilho nos seus olhos. Sem saber, ela me fazia lembrar uma frase que escutei várias vezes quando adentrei neste universo da publicidade: Pra fazer propaganda é preciso entender de gente!, que por ventura também escutei de um professor cheio de histórias. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Bem, de forma simples, acredito que entender de gente implica entender histórias, mas antes de começarmos a debater sobre isto, eu queria contar o trecho de uma história que ouvi do professor em questão pra vocês.

Imagine uma fogueira em uma praia. Ao seu redor estão várias pessoas, algumas mais jovens, outras mais velhas. As pessoas riem, bebem, conversam e compartilham experiências de vida. Pense em você sentado nesta fogueira, vendo todo o contexto. As pessoas estão felizes, estão aspirando algo mais por aquele momento, e não estão apenas ouvindo, mas estão construindo histórias, juntos, próximos. Entretanto, apenas algumas poucas pessoas falam. Outras apenas ouvem. No fim, fica fácil perceber quem está vivendo, pois tem histórias pra compartilhar na fogueira.

Retomando o que disse antes, penso que como no conto da fogueira, pessoas são formadas por histórias. Por quê? Porque histórias são carregadas de emoções, percepções, sentimentos, relacionamentos e insights. Vários insights!. Falo não das histórias presentes apenas em filmes e cinema, mas daquelas que estão nas pessoas. Aquelas com o poder de engajar, emocionar (acredito que emoção é mais forte que razão), e de criar experiências (lembre-se do brilho nos olhos narrado acima).

Penso que histórias inspiram novas histórias, aspiram e uni pessoas. Assim, creio que estas são capazes de envolver e engajar. Ok, envolver parece ser uma coisa muito óbvia, todos nós sabemos que a propaganda deve cumprir este papel. Sim, é verdade. Mas muitas vezes nos preocupamos tanto em achar o complexo, que nos esquecemos de coisas óbvias e simples, como por exemplo, envolver. Pense na simplicidade de alguns conceitos pelo mundo: I have a dream!Imagine!, que colocadas sobre um contexto ganham significados ilustres. Voltando a história descrita acima, nela você está sentado envolto a fogueira… ali ao seu lado há outras pessoas, e vocês compartilham e constroem histórias juntos. É realmente neste ponto que acho que nós como planejadores devemos pensar, em construir junto. Não é fazer propaganda para pessoas, e sim com pessoas. Não é ficar preso a escritórios e salas, e sim arregaçar as mangas e ir pra rua, pros lugares onde as pessoas pensam e se relacionam com a sua marca de verdade. É pegar e fazer acontecer, e este é mais um clichê que vejo sendo deixado de lado.

Assim como no conto da fogueira, creio que é preciso criar relacionamentos que envolva o consumidor em um diálogo. Como diz o Will.i.am em seu excelente manifesto sobre communiting, “Crie conversas, não anúncios”. Por isto, aí vai mais um dos insights tirado da história acima: empatia. Sim, eu acredito que planejadores precisam desta capacidade camaleônica, e de ter empatia para se colocar no lugar de pessoas, de diferentes pessoas e diferentes culturas. E esta capacidade camaleônica não diz respeito apenas aos seus consumidores, mas com trabalhos e pessoas da sua equipe. “Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez” disse Heráclito um sábio.

Desta forma, creio que histórias como esta da fogueira que estão presente nas pessoas, criam brilhos nos olhos e são capazes de emocionar e tocar o homem na essência do seu ser, o fazer aspirar algo mais. Sendo assim, acredito que histórias é um dos caminhos mais fortes para compreender o que Bill Bernbach disse em um discurso em 1980, citado por Jon Steel em seu livro A arte do planejamento. Verdades, mentiras e propaganda, ao qual diz que “no coração de uma filosofia criativa eficaz está a crença de que nada é mais poderoso do que um insight no interior da natureza humana[…]”. No entanto, pense que histórias devem estar intrínsecas a verbos que pedem ação, como fazer agir, produzir, quebrar a cara e outros.

Por fim, deixo aqui algumas reflexões para você planner fazer quando se sentar com o seu público e o seu cliente envolta da fogueira: Que história as pessoas estão lhe contando? Que histórias você tem a contar? O que vocês estão compartilhando? Que aspiração vocês estão trocando? Que conversas estão criando, e o que estão vivendo? E o mais importante, que história vocês estão construindo juntos?

O que penso sobre manifestos (e blá blá blá)

Manifesto: s.m. Declaração escrita pela qual um governante, um chefe de partido, um grupo de personalidades etc., dá conta de sua conduta no passado e define os objetivos que tem em vista no futuro.

Busquei no dicionário a real definição de manifesto e aí está. Por que fiz isso?

Durante quase dois anos, trabalhei numa agência júnior, a Matriz Comunicação. Muitas experiências e descobertas. Dentre elas, estava o manifesto de marca. Achava o máximo. Queria tentar escrever um, meus colegas também escreviam. Mas no meio do processo, percebíamos um problema: era muito mais poesia do que um real manifesto. Sentíamos que tinha algo errado ali. Palavras bonitinhas, cheias de purpurina, mas cadê a essência, contexto da marca? Jovens descobrindo a vida e a profissão tornam, por vezes, essas coisas muito amadoras. Claro que com o tempo, fomos aprendendo. Um pouquinho a cada dia. E hoje sim eu admito o manifesto de marca como um bom ponto para a construção identitária da mesma.

Como diz a definição do dicionário acima, manifesto é uma declaração de um grupo a respeito de uma determinada postura. Portanto, podemos voltar no tempo e, recapitulando, dizer que a ação começou na arte para expressar os então movimentos artísticos, destacando seus objetivos e princípios. Para exemplificar, posso falar do Manifesto Pau-Brasil, criado por Oswald Andrade. Oswald o publicou em 1924, sob o intuito de expressar e exportar a cultura do Brasil e assim encaminhá-la para uma nova estética. Depois, o Manifesto Antropófago, criado também por Oswald. Este é mais político e, como o nome sugere, tem um contexto de “comer” cultura, no caso, a primitiva com exteriores. (Os dois podem ser lidos aqui.) Em ambos manifestos, foram utilizadas ideias de outros pensadores junto às suas próprias ideologias. Posteriormente, serviram como pontapé inicial para manifestações brasileiras que surgiriam mais tarde, que utilizaram-nos como painel do país. Estendendo o cenário, temos como exemplo o Manifesto Comunista: extenso (um livro), político, porém com concepções concisas a respeito da ideologia dos defensores comunistas.

Essas diferentes direções de manifestos me dizem muito a respeito da concepção do mesmo. O fato de conceber uma razão dentro de um determinado campo compromete este objetivo enquanto essência, espelho, posicionamento. Destaco também a temporalidade. Os casos citados acima são totalmente atemporais: concebidos em determinada época, mas vagueiam até hoje, sendo ainda, participantes do movimento ou do partido. Chacoalharam o status quo? Sim. Foram premissas de acontecimentos futuros? Sim. Inspiraram? Sim. Mesmo depois de anos levaram um direcionamento certeiro para, no caso, as pessoas? Sim.

Eu acredito nesse tipo de manifesto. Que constrói uma “marca”, envolve pessoas, interage, comunica seus valores, expõe seus objetivos. E veja bem, não são manifestos essencialmente de mercado.

Diante deste cenário, me pergunto: como as marcas estão se entregando? Ano passado, o músico Will.I.am escreveu um excelente manifesto sobre como as marcas deveriam se comunicar, hoje. (É bom lembrar que bandas também são marcas. Brand Sense.) O conceito de communiting cabe perfeitamente no cenário que temos presenciado: surgimento de novos meios de comunicação e consequentemente, transição de comportamento dos consumidores (que agora assumem ainda mais outras identidades.) O que era a massa antes, transformou-se em milhares de nichos, estes que “exigem do planner envolver tudo”. E assim o posicionamento, áurea do manifesto, se desposiciona cada vez mais. E o manifesto é feito porque é um modelo a ser seguido, todos fazem, “é bonito”. Pensando desta forma, outra pergunta: todo mundo voltou a ser júnior? Me parece que a essência de muita coisa tem se perdido, está sendo feita “porque faz parte do modelo”, e não “porque criamos em cima de determinada razão de existir” – marca, campanha, etc. Como é então, estão todos sendo vencidos pelos padrões? Então vamos voltar e aprender com os artistas, filósofos, ativistas. Vamos aprender com os revolucionários.

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Música, cultura e projeto final

Desde muito tempo sou fascinada por música. Sou apaixonada pelos arranjos, o legado das canções, como elas segmentam grupos e ativam diversas opiniões. Então escrevi um artigo acadêmico sobre esta paixão envolvendo um pouco da outra, que é planejamento. Ok, não é relacionado a estratégia. É a construção dos arquétipos do álbum Electra Heart, da maravilhosa Marina and the Diamonds. De que forma eles retratam o Sonho Americano. O disco tem uma pegada dark bastante eletrônica e pop candy. É meio comercial, mas suficientemente original, vide o seu conceito.Quando finalmente apresentá-lo para a turma, publicarei aqui.

Este trabalho me deu boas ideias para o meu TCC (glória!). Então, fui neste fim de semana à livraria e comprei alguns livros. Entre eles o maravilhosíssimo “Da bossa nova à Tropicália”, de Santuza Cambraia Naves (essa mulher é incrível, vale pesquisar.) O livro é tão minúsculo e rico que dá vontade de chorar. Já conhecia um pouco da Tropicália, que é divina por si só, como comentei brevemente no post anterior. Mas o bacana, no livro, é voltar no tempo e conhecer a introdução à Bossa Nova e suas influências (ressalto o jazz norte-americano que amo, portanto achei o máximo). Enquanto eram rotulados de chorões, João Gilberto, Tom Jobim, Mário e Oswald de Andrade estavam buscando as raízes do Brasil para, por meio da música, ajudar a construir e estabelecer a identidade brasileira. This is awesome! E poucos sabem. Sinceramente e sem vergonha, por exemplo, digo que não sabia a diferença entre Bossa e MPB: enquanto a primeira, em seus primórdios, traz situações “banais” da Zona Sul do Rio de Janeiro (linda a garota de Ipanema, chega dessa saudade de você, etc.), a segunda assume o papel da massa e seus dilemas.

Voltando ao TCC, não, não vou discutir separadamente música, nem identidade cultural, nem personas. Vou fazer os três juntos, mas não tem a ver com o Electra. Este me deu parâmetros incríveis para definir as linhas de criação do projeto, mas quero valorizar a minha cultura, o nosso Brasil. Costumo dizer que, despercebidamente, publicitários são profissionais frustrados. Muitos artistas plásticos, sociólogos, musicistas, desenhistas e afins fazendo propaganda. No meu caso, é a Antropologia. Sou encantada por esse ramo; depois que decidi que não queria mais Economia, quase prestei vestibular para Antropologia, e sei lá por que desisti e fui para o mundo da Publicidade. Mas enfim, a forma que a cultura se desenrola na sociedade é papo pra muito tempo, e isso me interessa muito. Por isso, também, é que gosto tanto de planejamento, pois tenho a possibilidade de unir e tornar úteis as duas frentes, estratégia e cultura. Vejo que o nosso país passa por um momento de muito estrangeirismo, o que não é errado, de forma alguma. Mas o brasileiro costuma dar muito mais valor ao que vem de fora, talvez porque não conhece a nossa multidisciplinaridade, nosso mix de culturas e democracia. Quero poder ajudar, pelo menos uma parcela da população, a conhecer esses valores, reconhecer já é muito individual. E fazê-lo por meio da música. Ainda não estou ligada a formatos, mas tenho parâmetros temáticos. E muitos, muitos manifestos. Pode ser, ou pode parecer muita ousadia temática – principalemente porque não é algo que vai ficar enterrado numa monografia -, mas acho que fazendo “pequenas coisinhas” pelo planeta, podemos torná-lo melhor. Principalmente quando as pessoas não valorizam o que têm no mundo moderno.

“‘Aquele Abraço’ tornou-se o hino carnavalizado de toda uma geração que se sentiu oprimida pelo regime militar e por outros constrangimentos culturais.” Santuza Cambraia Naves

Obs: no decorrer das pesquisas, com certeza vou trazer informações pra cá. E elas começam desde agora. Obviamente quero escrever sobre meu dia-a-dia de publicitária (eu falo demais), então os assuntos serão intercalados. Acho que vai ser bem bacana, mas não se importe com isso.

Um trópico de Tropicália

Semana passada assisti o documentário Tropicália. E na minha opinião, provou para que veio, apesar de que foi feito para quem já conhecia pelo menos um pouco do movimento. A direção de arte e trilha sonora são maravilhosas (óbvio, dã), retratam muito bem o movimento. Eu particularmente, conhecia um pouco das nuances das músicas e artes, mas os preceitos do movimento, que  me são ainda mais encantadores, passei a tomar verdadeiro conhecimento há pouco tempo.

Não era nem nascida (infelizmente?), mas pela história que conheço da Ditadura, tenho certeza de que era uma barra ser formador de opinião em sua época. Mas Caetano e Gil eram tão ousados que mesmo sendo vaiados, continuavam cantando com um sorriso de orelha a orelha, mesmo recebendo acusações de “manchar a música brasileira com elementos estrangeiros”, persistiam. A nossa música é única, admirada por todos os cantos do mundo. E isso está intrínseco em nossa cultura. Mesmo buscando inspirações como The Beatles, Bob Dylan e até Janis Joplin, o movimento, e muito menos sua música, perdeu a brasilidade. Afinal, o célebre teórico cultural Stuart Hall* ressalta que “a identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro de nós como indivíduos (ou como país), mas uma falta de inteireza que é ‘preenchida’ a partir de nosso exterior.” (E pergunto: logo o Brasil, que tem senão a maior, uma das maiores pluralidades culturais do mundo? Bom, época de Regime Militar, a maioria das pessoas eram, com certeza, muito passivas.)

O disco-manifesto, intitulado com o mesmo nome do movimento, é genial. Exatamente. Essa palavra tem sido muito banalizada, mas para mim, ela cabe perfeitamente neste contexto. Cada faixa é revolucionária (não) apenas por misturar crítica social e poesia. Inovador por completo.

Por meio do movimento, Caetano, Gil & cia mudaram o estilo de vida, de música, arte e de comportamento de muitas pessoas. Logo, da indústria e gerações. Mesmo depois dos precursores do movimento terem sido presos e exilados, o Tropicalismo continuou. Não propriamente o movimento, mas toda a sua filosofia, que segue até hoje, mesmo 40 anos depois, como referência não apenas para a música, mas também para várias outras manifestações de arte.

Se ficou subentendida, aqui fica a moral do texto: é fantástico como mesmo depois de tantas décadas, conseguem ser tão atuais. O experimentalismo em todas as suas formas jamais deveria sair de moda.

*No livro A identidade cultural na pós-modernidade

A inteligência das emoções

Preciso dizer que estou lendo um ótimo livro chamado “O momento decisivo”, de Jonah Lehrer. Ele fala sobre como o cérebro humano faz escolhas, desde o sabor de sorvete até ações da bolsa de valores. O livro é carregado de insights a respeito de comportamentos diversos e eu venho refletindo a respeito deles nos últimos dias. Um ponto que me provocou bastante foi sobre como as emoções fazem com que tomemos as decisões… certas. E isso tem uma relação com intuição; um lado do nosso cérebro tem o poder de ter previsões acerca dos próximos acontecimentos baseando-se nas nossas antigas escolhas. Ele tem uma percepção apurada – e inconsciente – da escolha correta.

Percebo como isso é intrínseco na vida de um planner. A gente dispende vários momentos tendo que fazer escolhas, e toda escolha exige uma renúncia, o que é bastante arriscado. O que comunicar, o que pode ser ou não relevante para um determinado público, quais argumentos e referências utilizar para que a criação compre a nossa ideia… O que escolhemos pode dar muito certo ou muito errado, mas aí está a dor e a delícia do que fazemos.

Ainda não tenho ideia de como seguir a intuição dá certo. Talvez seja como o mestre Julio Ribeiro disse, planejamento é mágica. Depois da pesquisa, temos vários caminhos que podem ser seguidos, mas por que escolhemos o que escolhemos? Digo de novo que não faço ideia, e se você souber, peço humildemente que me diga.

Mesmo sendo de um outro ramo, mas dentro do mesmo contexto, acredito muito no que diz o jogador de futebol americano Tom Brady, enquanto quarterback. “Não existem regras rígidas. Você apenas sente que está indo para o lugar certo… E é para lá que arremessa.”