Adeus, mundo engessado

Uns dias atrás fui ao cinema assistir o filme “A Viagem” (Cloud Atlas, título original). Apesar de ser polêmico (quem assistiu e/ou leu as críticas sabe do que estou falando) e tratar de vários temas, uma das coisas que mais me marcou foi: como são incríveis as pessoas engajadas!

Certo, para que vocês possam entender um pouco eu precisaria explicar a história do filme, mas como isso é praticamente impossível (ainda mais tendo assistido uma única vez), vou apenas fazer um apanhado geral da parte que interessa a esse post – e prometo não dar spoilers para quem não assistiu ainda.

Na narrativa, acompanhamos cinco histórias diferentes que se passam em cinco épocas distintas (passado distante, passado, presente, futuro e futuro distante). A princípio, não se nota nenhuma ligação entre elas, mas no decorrer do filme percebemos que as personagens protagonistas de cada história estão conectadas por vários laços e que todas acreditam tão fortemente nas suas crenças e objetivos que são capazes de fazer mais do que o possível para lutarem por isso. Só que o mais legal é que todas essas personagens só fizeram isso quando alguém lhes mostrou esse algo pelo quê lutar. Antes disso, todas vivam suas vidas normalmente, até aparecer um algo que mudou a vida delas e que seria impossível simplesmente ignorar e viver como antes.

Após sair da sala de cinema, pra mim foi impossível não fazer uma conexão entre essa abordagem do filme e a publicidade. Ok, não é novidade pra ninguém que as marcas hoje são praticamente seres vivos, precisam interagir com seu público e principalmente engajá-los. Só que nessa de dar vida às marcas, muitas vezes as medidas tomadas acabam indo por um caminho oposto, mecanizando-as. Semana passada, o Guilherme trouxe algo próximo pra discussão no seu post “Tentaram limitar o digital”, falando sobre as repetitivas práticas já não inovadoras no meio digital, mas vejo que isso vai mais além, uma vez que a criação de vínculo real com o público precisa ocorrer também por outros meios fora o digital. Assim como em tempos passados, algumas empresas ainda tentam criar padrões.

Acontece que as coisas mudaram. Dizem que a internet mudou o mundo, mas não é bem verdade. A internet mudou as pessoas, e agora elas estão mudando o mundo. Essa mudança deu ciência às pessoas de que elas podem transformar coisas, que as vozes delas podem ser escutadas. Por isso, os padrões e os discursos repetitivos já não funcionam mais e as pessoas esperam mais das empresas. Quando uma marca levanta a bandeira de uma causa que o seu público acredita, eles se juntam à marca, se aproximam, a defendem, a tratam como um igual, parecido com o que acontece às personagens engajadas do filme A Viagem. E quando digo causa, não me refiro só a coisas grandiosas, como salvar o mundo.

Um ótimo exemplo disso é a campanha Happiness Refill, de uma marca expert em se relacionar e engajar com seu público, a Coca-Cola. Eles notaram que a felicidade para o jovem é estar sempre conectado, mas que às vezes isso é difícil uma vez que jovens possuem pouco dinheiro. Daí, criaram uma máquina que ao invés de encher um copo de refrigerante, “enche” o celular da pessoa com um pacote de dados para navegar na internet.

São atitudes como essa que aproximam o consumidor da marca, são essas as atitudes que os consumidores esperam. Não há espaço para algo engessado e as empresas que ainda sonham com isso precisam entender que se não se adaptarem, ficarão no passado junto com seu gesso.

É por isso que acho as pessoas engajadas e incríveis, mas mais ainda o mundo sem gesso que nós estamos criando.

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