O que penso sobre manifestos (e blá blá blá)

Manifesto: s.m. Declaração escrita pela qual um governante, um chefe de partido, um grupo de personalidades etc., dá conta de sua conduta no passado e define os objetivos que tem em vista no futuro.

Busquei no dicionário a real definição de manifesto e aí está. Por que fiz isso?

Durante quase dois anos, trabalhei numa agência júnior, a Matriz Comunicação. Muitas experiências e descobertas. Dentre elas, estava o manifesto de marca. Achava o máximo. Queria tentar escrever um, meus colegas também escreviam. Mas no meio do processo, percebíamos um problema: era muito mais poesia do que um real manifesto. Sentíamos que tinha algo errado ali. Palavras bonitinhas, cheias de purpurina, mas cadê a essência, contexto da marca? Jovens descobrindo a vida e a profissão tornam, por vezes, essas coisas muito amadoras. Claro que com o tempo, fomos aprendendo. Um pouquinho a cada dia. E hoje sim eu admito o manifesto de marca como um bom ponto para a construção identitária da mesma.

Como diz a definição do dicionário acima, manifesto é uma declaração de um grupo a respeito de uma determinada postura. Portanto, podemos voltar no tempo e, recapitulando, dizer que a ação começou na arte para expressar os então movimentos artísticos, destacando seus objetivos e princípios. Para exemplificar, posso falar do Manifesto Pau-Brasil, criado por Oswald Andrade. Oswald o publicou em 1924, sob o intuito de expressar e exportar a cultura do Brasil e assim encaminhá-la para uma nova estética. Depois, o Manifesto Antropófago, criado também por Oswald. Este é mais político e, como o nome sugere, tem um contexto de “comer” cultura, no caso, a primitiva com exteriores. (Os dois podem ser lidos aqui.) Em ambos manifestos, foram utilizadas ideias de outros pensadores junto às suas próprias ideologias. Posteriormente, serviram como pontapé inicial para manifestações brasileiras que surgiriam mais tarde, que utilizaram-nos como painel do país. Estendendo o cenário, temos como exemplo o Manifesto Comunista: extenso (um livro), político, porém com concepções concisas a respeito da ideologia dos defensores comunistas.

Essas diferentes direções de manifestos me dizem muito a respeito da concepção do mesmo. O fato de conceber uma razão dentro de um determinado campo compromete este objetivo enquanto essência, espelho, posicionamento. Destaco também a temporalidade. Os casos citados acima são totalmente atemporais: concebidos em determinada época, mas vagueiam até hoje, sendo ainda, participantes do movimento ou do partido. Chacoalharam o status quo? Sim. Foram premissas de acontecimentos futuros? Sim. Inspiraram? Sim. Mesmo depois de anos levaram um direcionamento certeiro para, no caso, as pessoas? Sim.

Eu acredito nesse tipo de manifesto. Que constrói uma “marca”, envolve pessoas, interage, comunica seus valores, expõe seus objetivos. E veja bem, não são manifestos essencialmente de mercado.

Diante deste cenário, me pergunto: como as marcas estão se entregando? Ano passado, o músico Will.I.am escreveu um excelente manifesto sobre como as marcas deveriam se comunicar, hoje. (É bom lembrar que bandas também são marcas. Brand Sense.) O conceito de communiting cabe perfeitamente no cenário que temos presenciado: surgimento de novos meios de comunicação e consequentemente, transição de comportamento dos consumidores (que agora assumem ainda mais outras identidades.) O que era a massa antes, transformou-se em milhares de nichos, estes que “exigem do planner envolver tudo”. E assim o posicionamento, áurea do manifesto, se desposiciona cada vez mais. E o manifesto é feito porque é um modelo a ser seguido, todos fazem, “é bonito”. Pensando desta forma, outra pergunta: todo mundo voltou a ser júnior? Me parece que a essência de muita coisa tem se perdido, está sendo feita “porque faz parte do modelo”, e não “porque criamos em cima de determinada razão de existir” – marca, campanha, etc. Como é então, estão todos sendo vencidos pelos padrões? Então vamos voltar e aprender com os artistas, filósofos, ativistas. Vamos aprender com os revolucionários.

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